2011 chegou na Escola Ivonne trazendo muitas expectativas e energias renovadas: equipe gestora nova (mudamos de diretora, supervisora e coordenadora pedagógica), novas professoras e funcionárias, professoras antigas no grupo experimentando trabalhar com faixas etárias diferentes, antiga coordenadora pedagógica testando toda sua teoria de gestora numa sala de aula… Início de ano é sempre assim… renovamos nossas forças, testamos novas possibilidades e procuramos sempre em equipe, avançar no processo de evolução do nosso pensamento pedagógico que começou há mais de 10 anos desde que esta escola foi inaugurada. Sendo assim, apesar das mudanças que ocorrem a cada início de ano, nossa equipe caminha como uma unidade, respeitando a história e a identidade da escola, agregando sempre todas as inovações que puderem contribuir com o nosso caminhar.
PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE 2011:
Todas as educadoras da escola Ivonne iniciam o ano da mesma forma: damos um tempo para que as crianças se adaptem, se acomodem e se sintam acolhidas pela escola. Neste período, de mais ou menos 2 ou 3 semanas, nossas propostas de atividades tem como objetivo observar as crianças em grupo e individualmente para colher dados e poder com estes dados perceber as necessidades, anseios e expectativas do grupo para que nosso planejamento seja real e tenha sentido. Nosso planejamento portanto é feito após este período com base nas caracterizações de cada sala.
Neste período, nós professoras assumimos por inteiro nosso papel de professor organizador: organizador de sentidos!
A rotina de cada sala começa a se delinear, mas é importante salientar que de maneira alguma esta rotina é vivida de modo rígido e inflexível, tudo está em negociação. Entendemos então que dentro da estruturação espaço-temporal do nosso dia, diversas ações servem para que as observações sejam feitas, veja algumas:
- RODA DE CONVERSA: esta é, principalmente, o momento em que os elementos do grupo falam, opinam, discordam, concordam, se calam… dão portanto muitos indícios à professora que deve estar na roda como participante, problematizadora e desafiadora. Segundo Piaget, é através das relações interpessoais repetidas, principalmentes aquelas que incluem discussões, que a criança é levada a tomar consciência do outro.
- ATIVIDADES COLETIVAS: através de práticas coletivas (roda, música na bandinha, jogos de encaixe, quebra cabeça…), que englobam o grupo como um todo, a criança vai percebendo de um lado a importância de cada uma pra o grupo e do grupo no crescimento individual de cada um.
- PARQUE: o parque aqui não é visto como hora do recreio, na verdade nos oferece pela sua riqueza de variedades de interesses, uma diversidade de observações muito globais (correr, resolver conflitos, formar grupos, organizar regras num espaço muito mais amplo que os que costumam frequentar…) que certamente não são observadas em nenhum outro espaço da escola. Interessante que se possibilite que haja heterogeneidade de idades neste espaço.
- JOGO SIMBÓLICO: quando uma criança brinca, joga ou desenha ela está desenvolvendo sua capacidade de representar, de simbolizar. É construindo suas representações que a criança se apropria da realidade. É através dos momentos que propiciamos para o “faz de conta” que a criança assimila a realidade externa dos adultos à sua realidade interna. É através destes momentos que a criança registra, pensa e lê o mundo. Assim, todas as turmas da nossa escola reservam um tempo precioso para observar as crianças fazendo de conta.
- ATIVIDADES DE ARTE: as crianças precisam de um tempo para pesquisas individuais com diversos tipos de materiais e suportes. Este momento em que a criança se expressa artisticamente oferece à professora condições de trabalhar necessidades individuias ou específicas daquele grupo e é também momento de colher dados para a elaboração de atividades planejadas a serem desenvolvidas posteriormente.
- OUTROS MOMENTOS INTERESSANTES PARA OBSERVAÇÃO: hora da história, músicas, hora do repouso (para turmas integrais), atividades de movimento, jogos de regras, alimentação…
SEGUINDO ESTA FORMA DE ORGANIZAR AS PRIMEIRAS SEMANAS DE AULA…
A turma do infantil III integral do período da tarde (15 crianças de 3 anos completos) experimentou uma série de desafios dentro dos eixos Artes Visuais e Identidade-Autonomia, que tinham como objetivo proporcionar à professora “dicas” sobre o processo criador das crianças. Foram propostas 4 atividades em 4 dias consecutivos:
- pintura com giz de lousa na parede externa da escola;
- pintura com água e rolinho na parede externa da escola;
- pintura clássica com dedos, mãos e cotovelos;
- arte processual.
- A primeira atividade, pintura com giz de lousa na parede externa da escola, não exige muita preparação nem preocupação com a limpeza do espaço nem das crianças. A liberdade de rabiscar com giz ao ar livre é muito divertida.
*OBSERVAÇÕES DA PROFESSORA: “Algumas crianças passaram apenas 1 minuto desenhando (principalmente as mais novas que completaram 3 anos recentemente), ao passo que outras passaram quase meia hora. Fizeram marcas com muitos estilos e procedimentos, tipo garatujas, tudo com muita naturalidade e frequência. Ter todo o espaço da parede para desenhar foi importante para que usassem os grandes músculos do braço. Percebi que apesar de simples a atividade demandou coordenação entre olhos e mãos, controle muscular e experimentação de traçados e possibilidades. Neste grupo existem crianças que necessitarão de intervenções pontuais neste sentido.”
- A segunda proposta, pintura com água e rolinho na parede externa da escola, também não exige preparação ou limpeza. Precisamos de 1 ou 2 baldes com água, rolinhos e pincéis.
*OBSERVAÇÕES DA PROFESSORA: “Para esta atividade convidamos a turma do infantil II da professora Michelle pra brincar com a gente. O dia estava muito quente e tirei todas as camisetas das crianças já prevendo que a brincadeira com água excederia os limites da parede. Eles se interessaram mais por esta atividade do que pela de ontem. A liberdade criativa ficou mais aflorada. Por conta do calor as marcas na parede evaporavam rapidamente, causando grande espanto: _Olha prô! A parede bebe água! 15 minutos após iniciarmos, as crianças começaram a passar o rolinho molhado pelo corpo, não interferi justamente por perceber que isso causou uma sensação muito prazerosa em todos, talvez até maior que pintar a parede, possibilitando muita interação e diversão em grupo.”
- A terceira atividade, pintura clássica com dedos, mãos e cotovelos, demandou uma logística de ações para acontecer: todas as crianças sem camiseta e sem sapato, uma ajudante para a lavagem das mãos, preparação da sala de aula para que os 15 tivessem um espaço amplo para trabalhar.
*OBSERVAÇÕES DA PROFESSORA: “Iniciei distribuindo as folhas de papel pardo e pedindo que as crianças escolhessem um local pra trabalhar, alguns quiseram o chão, outros a mesa. Após estarem instalados passei por todos colocando uma quantidade generosa de tinta de duas cores no centro da folha. Quando todos já tinham a tinta a sua frente, disse que iríamos pintar, mas que não tinhamos pincel nem rolinho e que queria que alguém me desse uma ideia do que fazer, a maioria não falou nada, até que um deles disse inseguro se poderia ser com a mão, respondi que sim, mas que podeia ser com mãos, dedos e cotovelos. Causei certo estranhamento quando disse isso, incentivei e os primeiros começaram a se aventurar, disseram que a tinta era gelada e grudenta. Outros ficaram com nojo da tinta e só usaram o dedo indicador. Preferi não interferir para ver até onde experimentariam a tinta por inteiro, alguns realmente se recusaram a se sujar, outros porém fizeram tanta sujeira que fiquei meio desesperada ao perceber que a experiência preferida não era pintar o papel e sim os braços e barriga transformando a atividade numa descoberta sensorial divertida. Percebi que os mais novos ainda tem dificuldade em controlar sua força diante do papel, rasgando-o. Considerei esta atividade importante para observar como as crianças fazem descobertas e cuidam do próprio corpo.”
- A última atidade da semana foi nossa primeira experiência com arte processual, onde o que importa é o processo criador e não o produto final. Aqui o procedimento consiste em juntar uma grande variedade de material (canetas hidrográficas, cola, giz de cera e de lousa molhado, retalhos de papel, lápis de cor, palitos de sorvete…) e deixá-los ao alcance das crianças para que possam usá-los de forma independente sem nenhuma orientação, instrução, opinião ou assistência. Sob supervisão obviamente. Aqui o trabalho da professora é o de observar a criatividade e a maneira como as crianças brincam, manuseiam, investigam, descobrem, interagem e controlam os materiais e seus impulsos.
*OBSERVAÇÕES DA PROFESSORA: “Iniciei distribuindo as folhas de papel A3 e pedindo que as crianças escolhessem um local pra trabalhar, alguns quiseram o chão, outros a mesa. A princípio disse que poderiam fazer o que quisessem com o material que estava disposto numa mesa no centro da sala, todos ficaram esperando mais comandos, quando perceberam que não teriam mais instruções começaram a se movimentar. A grande maioria escolheu a cola e os pedaços de papel pra começar, no entanto percebi que não sabiam usar este material de forma adequada, alguns esvaziaram o tubo de cola sobre o papel de maneira que muitas folhas tiveram de ser substituídas. Neste momento precisei intervir dizendo que usassem a cola com mais cuidado, não adiantou muito e como a proposta era que eu não fizesse intervenções precisei conter minha ansiedade em ajudá-los, algo que ainda é complicado para mim. As crianças passaram então a se organizar em torno dos colegas que estavam tendo bons resultados com a cola para que estes os ajudassem, alguns sentiram a cola cheirando-a e experimentando seu gosto com a ponta da língua. Quando os pedacinhos de papel picado acabaram começaram a colar os palitos de sorvete na folha, esteticamente tudo ficou muito confuso. Apenas 2 crianças fizeram marcas gráficas na folha com os gizes de cera e de lousa, conclui a partir deste dado que o interesse deles girou em torno daquilo que era novidade e desafio: a cola, e que não tiveram experiências deste tipo até então. Assim, pretendo propor outras atividades de colagem para que superem o desafio de usar a cola de forma correta, evitando inclusive seu desperdício. Pude perceber também que todos sentiram muito prazer em suas realizações artísticas e que apesar de gostarem da bagunça se sentiram “sujos” muito rápido querendo lavar as mãos sujas de cola a todo momento. Assim, fica muito claro que as crianças pequenas gostam muito mais de utilizar os materiais do que de criar uma obra acabada.”
“Nossa tarefa, com relação à criatividade, é ajudar a criança a escalar suas próprias montanhas, a subir o mais alto possível…” Loris Malaguzzi
ATÉ A PRÓXIMA!!!
PROFESSORA LIA CARLA (lialiamorrison@hotmail.com)