Escola Municipal de Educação Infantil "PROFª IVONNE DOS SANTOS DIAS" Bragança Paulista - SP

sábado, 21 de março de 2009

O Olhar Desconcertante

Este texto é do autor Francisco Marques (Chico dos Bonecos) e está no livro "Muitos dedos: Enredos" da editora Peirópolis. Portanto, não se contente com este copo d’água. Procure a obra original, a fonte das águas. Tenha o prazer das descobertas. E o mais importante: descubra coisas que só você poderá descobrir.”


Então pão mão de mofão será cotão, para começo de conversa, e para a conversa começar, lançamos uma pergunta espezinhenta: “O que é educar?” O texto, a seguir, vai abordar alguns aspectos essenciais desta questão.

O OLHAR DESCONCERTANTE

Antigamente – e nem tão “antigamente” assim -, a pergunta que mobilizava o educador era... “Como ensinar?” Então, nós, educadores, do alto da nossa onipotência, ficávamos inventando formas de melhor ensinar.
Atualmente, a pergunta que mobiliza o educador é... “Como a criança aprende?” Então, nós, educadores, em primeiríssimo lugar, queremos compreender o olhar da criança sobre a vida: sobre o outro e os outros, sobre si mesma, a natureza, a sociedade...
Quando nos perguntamos “como a criança aprende?”, tropeçamos na linguagem da criança: o Brincar. Para nós, adultos, Brincar é sinônimo de “lazer”, “passatempo”, “coisa de fim de semana”, “falta do que fazer”. Para a criança, entretanto, Brincar é uma questão de... Sobrevivência. Isso mesmo: sobrevivência. Porque Brincar é o instrumento que a criança utiliza para interpretar a vida e interferir no mundo. Para a criança, Brincar é a sua maneira de Pensar. Para a criança, Brincadeira e Pensamento formam uma unidade indissolúvel, inquebrantável.
A partir da pergunta “como a criança aprende?”, a pergunta “como ensinar?” ganha um sentido profundo...
Quando a criança brinca, no fundo, no fundo, o que ela está realizando? A criança brinca com uma pedrinha, um graveto, com as próprias mãos, as palavras, as canções, a escada de maracá, o jabolô... Brincando, a criança está o tempo inteiro, e inteira no tempo, investigando, experimentando, explorando. Estes três temperos –
explorar, experimentar, investigar - formam a base da Construção do Conhecimento.
O Brincar, portanto, está no eixo da nossa proposta pedagógica, na raiz filosófica da nossa educação.
Partindo destas reflexões, podemos evitar as simplificações que apontam o Brincar na educação como sinônimo de “intervalo”, “ornamento”, “relaxamento”, “descontração”. Por causa deste reducionismo, nós, educadores, ficamos ansiosos atrás de novos brinquedos e novas brincadeiras – como se as técnicas e os materiais fossem os elementos mais importantes do Brincar.
Para a criança, qualquer situação, ambiente ou objeto, se transformam em objeto, ambiente e situação de brincadeira. Para a criança, Brincar é uma postura diante da vida, é um olhar para o cotidiano, um olhar desconcertante. Para nós, educadores, o importante é captar este olhar, esta postura. Incorporando este olhar desconcertante, a aventura de aprender novas brincadeiras e construir novos brinquedos ganha um sentido profundo.
Por falar em novidades... O repertório dos brinquedos milenares e planetários é uma fonte sempre contemporânea de aventuras mirabolantes e abracadabrantes. Quem já teceu um cordão no rabo-de-gato? Quem já ouviu a língua do ferrê? Quem já soprou a pena? Quem já lançou as argolas?
Aqui, então, surge a famosa pergunta: “Por que não encontramos estes brinquedos por aí”? E surgem as famosas respostas: “a gente esquece”, “falta de tempo”, “falta de espaço”, “o consumo”, “o atrativo da alta tecnologia”, “ a correria da vida”...
Estas respostas são meias verdades. Por falar nisso, vamos lembrar o poeta espanhol Antonio Machado:
“Disseste meia verdade? Dirão que mentes duas vezes quando disseres a outra metade.”
-Francisco Marques-

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