Por ser um assunto muito discutido por nossa equipe, e por estarmos à véspera de uma data muito trabalhada na rotina escolar, resolvemos abrir este espaço para a exploração e reflexão deste tema que gera muitas polêmicas. Escolhemos e postamos um artigo que poderá dar suporte a esta reflexão. Leia e compartilhe conosco sua opinião a esse respeito.
Equipe da Ivonne
Qual a importancia de trabalharmos as Datas Comemorativas?
"A vontade de escrever esse artigo vem de presenciar as dúvidas cotidianas dos professores de Educação Infantil, com os quais tenho trabalhado, sobre as atividades artísticas na escola, seu papel, seus encaminhamentos, sua pertinência. Todas elas estão quase sempre ligadas ao que “pode e não pode”, ao que “deve e não deve” ser feito, dentro de uma proposta que prioriza a construção do conhecimento na criança. Sim, porque se essa não for a proposta da escola tudo fica bem mais facilitado. As prateleiras das livrarias e bibliotecas estão cheias de livros com receitas de atividades absolutamente descompromissadas com um pensamento artístico-educacional construtivista.
"A vontade de escrever esse artigo vem de presenciar as dúvidas cotidianas dos professores de Educação Infantil, com os quais tenho trabalhado, sobre as atividades artísticas na escola, seu papel, seus encaminhamentos, sua pertinência. Todas elas estão quase sempre ligadas ao que “pode e não pode”, ao que “deve e não deve” ser feito, dentro de uma proposta que prioriza a construção do conhecimento na criança. Sim, porque se essa não for a proposta da escola tudo fica bem mais facilitado. As prateleiras das livrarias e bibliotecas estão cheias de livros com receitas de atividades absolutamente descompromissadas com um pensamento artístico-educacional construtivista.
Infelizmente, o que ainda hoje se faz, na maioria das escolas, são atividades artísticas que não passam de um arremedo empobrecido e vazio, proposta ultrapassada e excluída do pensamento artístico-educacional da contemporaneidade por não representar as possibilidades de profunda e consistente transformação por meio do fazer artístico.
Muito já foi dito sobre a possibilidade de as manifestações artísticas iniciadas nos primeiros anos de vida serem significativas na formação de indivíduos socialmente adaptados e felizes. Porém, que tipos de manifestações o professor pode promover que tenham um efetivo papel nessa formação? Colorir “dentro” de desenhos prontos - feitos pelos próprios professores ou retirados de livros e revistas - colar algodão ou macarrão em folhas de papel colorido, carimbar as mãozinhas em cartolinas para fabricar cartões para os pais?
Não há receitas de como promover atividades significativas. É a formação e sensibilidade do professor que está na base de todas as questões, uma formação que ultrapassa o universo dos livros e das palestras e invade as esferas sociais e familiares.
Muito já foi dito sobre a possibilidade de as manifestações artísticas iniciadas nos primeiros anos de vida serem significativas na formação de indivíduos socialmente adaptados e felizes. Porém, que tipos de manifestações o professor pode promover que tenham um efetivo papel nessa formação? Colorir “dentro” de desenhos prontos - feitos pelos próprios professores ou retirados de livros e revistas - colar algodão ou macarrão em folhas de papel colorido, carimbar as mãozinhas em cartolinas para fabricar cartões para os pais?
Não há receitas de como promover atividades significativas. É a formação e sensibilidade do professor que está na base de todas as questões, uma formação que ultrapassa o universo dos livros e das palestras e invade as esferas sociais e familiares.
Acredito que um dos vazios preocupantes nessa formação é o da constituição de um olhar mais crítico e atento sobre as imposições de nossa sociedade de consumo, bem como uma excessiva benevolência para com a mesma. Uma visita às escolas nas proximidades de datas comemorativas, sejam elas religiosas ou sociais, faz saltar aos olhos - e aos ouvidos muitas vezes - os problemas dessa complacência com a cultura do consumismo.
Pensemos na Páscoa, já que ela está por perto. Os coelhos invadem os ateliês e as salas de aula com uma potência indescritível. Proliferam-se em número absurdo e impensável. São máscaras, fantasias, cartões, cartazes, músicas e jogos, desenhos, colagens, pinturas, histórias e brincadeiras... Todas com o coelho. Ou melhor dizendo: com o estereótipo de um coelho. Aquele de olhos vermelhos e pêlo branquinho, de nariz cor-de-rosa e dois dentes enormes pendurados no focinho. Um coelho e seus ovos, por mais esdrúxulo que isso possa parecer. E, se os significados dessa festa e de seus símbolos, em geral, não são conhecidos nem pelos professores, nem pela direção das escolas, muito menos o são pelas crianças, que se vêem envolvidas nesse mar de comemorações e, logicamente, apenas dançam conforme a música.
Não estou aqui sugerindo que as escolas neguem-se a comemorações de qualquer espécie e passem a fazer panfletagem contra a sociedade de consumo. Apenas acredito que o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as datas comemorativas, por exemplo, possa ser de grande valia na constituição do pensamento e das ações dessas crianças que hoje são incitadas a comer, cantar e produzir coelhos apenas porque o ato de comprar e revender mercadorias tem um poder tão absoluto em nosso meio social. As comemorações podem ser feitas, sim, pelas escolas e demais instituições, mas não precisam ser apenas e unicamente reflexos desse consumo exacerbado, que vem se intensificando ano após ano.Nos dias que antecedem a Páscoa, é difícil distinguir se estamos numa escola ou num supermercado. O problema do coelho e dos ovos proliferando-se nas atividades artísticas das crianças é a velha e boa questão: PARA QUÊ?
Se o interesse é promover a união e a confraternização entre os alunos e professores, por exemplo – um dos sentidos da Páscoa é a comunhão coletiva - porque não pensar em fazê-lo buscando outras referências distantes das que o comércio nos dá à exaustão?
Certamente existem diversas maneiras de rompermos com os empobrecidos estereótipos dos quais se revestem as datas comemorativas e fazermos delas um momento significativo para nossas crianças, tão terrivelmente bombardeadas por ideais consumistas. A escola tem papel fundamental nessa construção, porém é preciso aguçar os ouvidos e os olhares, atentar os sentidos todos e cutucar as idéias para que a imaginação dê conta de tarefa tão valorosa.
Podemos pensar na idéia mesma de “comemorar” - trazer à memória, fazer recordar - e criar, por exemplo, um calendário inventado pela classe ou por toda a escola. Que tal comemorar o Dia do Desenho Maluco, o Dia de Contar Histórias, o Dia do Medo, o Dia de Lembrar Sonhos, ou qualquer outra questão que seja significativa para as crianças e/ ou para os professores? Não faz mal nenhum para as crianças se repetirmos na escola as atividades promovidas pelos shoppings centers, mas... Qual o resultado disso? Essas atividades colaboram de que maneira na construção de seu mundo cognitivo e emocional?
Costumo dizer que as crianças pequenas estão apenas "engolindo" o mundo por todos os poros e buracos que podem usar para tal. Essas crianças vão se expressar plasticamente de maneira rica e diferenciada, quanto mais materiais e incentivos tiverem à disposição, mas o que vai haver de diferente no trabalho de cada uma, se todas ganharem um mesmo contorno de coelho para ser colorido? Ou todas pintarem individualmente uma mesma árvore de natal?
Então, uma boa lembrança é sempre perguntarmos o porquê e o como de cada atividade, antes de passá-las aos nossos alunos, pois o grande perigo é nos transformarmos também em simples comerciantes ou mercadores, senão de ovos de chocolate, de idéias."
Não estou aqui sugerindo que as escolas neguem-se a comemorações de qualquer espécie e passem a fazer panfletagem contra a sociedade de consumo. Apenas acredito que o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as datas comemorativas, por exemplo, possa ser de grande valia na constituição do pensamento e das ações dessas crianças que hoje são incitadas a comer, cantar e produzir coelhos apenas porque o ato de comprar e revender mercadorias tem um poder tão absoluto em nosso meio social. As comemorações podem ser feitas, sim, pelas escolas e demais instituições, mas não precisam ser apenas e unicamente reflexos desse consumo exacerbado, que vem se intensificando ano após ano.Nos dias que antecedem a Páscoa, é difícil distinguir se estamos numa escola ou num supermercado. O problema do coelho e dos ovos proliferando-se nas atividades artísticas das crianças é a velha e boa questão: PARA QUÊ?
Se o interesse é promover a união e a confraternização entre os alunos e professores, por exemplo – um dos sentidos da Páscoa é a comunhão coletiva - porque não pensar em fazê-lo buscando outras referências distantes das que o comércio nos dá à exaustão?
Certamente existem diversas maneiras de rompermos com os empobrecidos estereótipos dos quais se revestem as datas comemorativas e fazermos delas um momento significativo para nossas crianças, tão terrivelmente bombardeadas por ideais consumistas. A escola tem papel fundamental nessa construção, porém é preciso aguçar os ouvidos e os olhares, atentar os sentidos todos e cutucar as idéias para que a imaginação dê conta de tarefa tão valorosa.
Podemos pensar na idéia mesma de “comemorar” - trazer à memória, fazer recordar - e criar, por exemplo, um calendário inventado pela classe ou por toda a escola. Que tal comemorar o Dia do Desenho Maluco, o Dia de Contar Histórias, o Dia do Medo, o Dia de Lembrar Sonhos, ou qualquer outra questão que seja significativa para as crianças e/ ou para os professores? Não faz mal nenhum para as crianças se repetirmos na escola as atividades promovidas pelos shoppings centers, mas... Qual o resultado disso? Essas atividades colaboram de que maneira na construção de seu mundo cognitivo e emocional?
Costumo dizer que as crianças pequenas estão apenas "engolindo" o mundo por todos os poros e buracos que podem usar para tal. Essas crianças vão se expressar plasticamente de maneira rica e diferenciada, quanto mais materiais e incentivos tiverem à disposição, mas o que vai haver de diferente no trabalho de cada uma, se todas ganharem um mesmo contorno de coelho para ser colorido? Ou todas pintarem individualmente uma mesma árvore de natal?
Então, uma boa lembrança é sempre perguntarmos o porquê e o como de cada atividade, antes de passá-las aos nossos alunos, pois o grande perigo é nos transformarmos também em simples comerciantes ou mercadores, senão de ovos de chocolate, de idéias."
-Ana Teixeira- Arte Educadora
http://www.anateixeira.com/edu/projetos.htm
ISSO TUDO LEVA A CRER QUE ESTAMOS REALMENTE UM PASSO À FRENTE...
ResponderExcluirCom certeza esse texto será tema do nosso próximo HTPC!!!
ResponderExcluirOlá valéria!!
ResponderExcluirSabemos que Educadores que estão comprometidos com a qualidade da Educação sempre estarão aberto para novas indagações...
Continue nos visitando e participando pois virãos outros mais...
Beijos!
AQUI TENHO QUE ENALTECER A VISÃO DA AUTORA DO TEXTO.
ResponderExcluirTEMOS QUE DESCONSTRUIR ESSA IDÉIA DE DATAS COMEMORATIVAS TÃO ATRELADAS AO SISTEMA CAPITALISTA E A FORMAÇÃO DA CRIANÇA CONSUMISTA.
TRAZER SIGNIFICADOS AS DATAS SERIA A COISA MAIS IMPORTANTE, ENTRETANTO COMO FALAR DA EXPLORAÇÃO MISOGINA QUE SOFRERAM E SOFREM AS MULHERES Á CRIANÇAS DE 4 ANOS PARA COMEMORAR O DIA DA MULHER? COMO EXPLICAR DIFENRENÇA DE FUSOS HORÁRIOS E CLIMATOLÓGICAS PARA QUE ELAS COMPREENDAM QUE O TAL DO PAPAI NOEL USA VELUDO E BOTA PORQUE LÁ NA EUROPA É INVERNO, ENQUANTO ESTAREMOS NO VERÃO? ALIÁS, 'PAPAI NOEL' OU 'COCA-COLA'? VESTIR UM PERSONAGEM COM ESSAS CORES E MODELO É FAZER PROPAGANDA GRATUITA.
ATENÇÃO, EXISTEM MUITAS MANEIRAS DE TRABALHAR COM ESSAS COMEMORAÇÕES, DANDO AS MESMAS CONOTAÇÕES PROXIMAS DA REALIDADE EM QUE AS CRIANÇAS ESTÃO INSERIDAS, QUEBRANDO ESTERIOTIPOS ACEITOS NO SENSO COMUM. É SÓ TER BOM SENSO E DEDICAR-SE A CRIATIVIDADE E A PESQUISA.
UM ABRAÇO.
PROFª DÉBORA
sabe na verdade oque eu estava querendo era atividades diferentes e criativas que envolva arte para crianças naum tão pequenas.Tipo uma oficina.
ResponderExcluirobrigada e respondam rapido
Olá!!! Estou de acordo com o "anônimo"... Não sou professora de educação infantil, nem de educação artística, mas estou ajudando em um projeto social e o que trabalho com as crianças lá é o artesanato.
ResponderExcluirCom os maiores tem sido mais fácil. Mas há crianças de 3 a 7 anos, com os quais não sei muito bem o que fazer.
O artesanato com eles pode ajudar a desenvolver uma série de competências e habilidades, além de despertar o gosto pelo belo, porém não faço a menor idéia do que poderia ser atrativo e até mais fácil de se fazer com essa faixa de idade.
Acho também importante acrescentar que são crianças em risco de rua, que não têm muitos dos valores e costumes que uma criança com educação mais estruturada teria.
Assim, até o desperdício, o cuidado e outros detalhes precisam ser trabalhados constantemente.
Por favor, me ajudem!!!!
Que Deus os abençoe muito!
Essa tal de Ana Teixeira ñ entende nada de criança.Pq privar os pequenos de viverem sua infância, de poderem imaginar o coelhinho trazendo ovos de chocolate. Será que ela é mãe? Se for coitadinhos de seus filhos, nunca colocaram uma máscara de coelho.
ResponderExcluirEstamos formando cidadãos ou consumidores? A escola e o mercado são polos opostos de um mesmo sistema, um muito rico, que detém o poder econômico social e político, o outro tem em suas mãos os que o mercado tanto persegue: o consumidor e para isso ele ataca em dois eixos: cobertura e profundidade. O que significa isto. O mercado, ou melhor o marketing trabalha o que ele chama de target ou seja, o público alvo, no caso as crianças e para isso veicula na mídia suas campanhas em diferentes meios de comunicação visando atingir o maior número de pessoas, ou melhor, consumidores de um determinado perfil sócio-econômico. O pior de tudo isso é que nós, educadores que temos nas mãos este público tão perseguido pela mídia, acabamos por prestar um serviço gratuito ao sistema, entregando nossas crianças ao 'maravilhoso mundo do consumo", esquecendo da nossa principal missão que é formar cidadãos.
ResponderExcluirPensem nisto
Edna Dantas arte-educadora e ex-publicitária