"Entrelaçando Olhares, Escutas e Diálogos"
Nos dias 25, 26 e 27 de setembro pp., aconteceu o VI Seminário de Educação Infantil e Séries Iniciais em Águas de Lindóia. O Encontro foi proporcionado, pela Secretaria Municipal de Educação de Bragança Paulista, aos gestores e educadores da Rede Municipal. A coordenadora Pedagógica Lia Carla e a profesora Elaine Faria representaram nossa escola no evento.
O Seminário realizado pela empresa de consultoria e assessoria educacional “Aprender a Ser” e coordenado pela profª Emilia Cipriano e pelo prof° Cláudio Castro Sanches, teve o objetivo de contribuir para a formação de educadores e para o planejamento de ações relacionadas à educação na infância.
Achadouros de Infância
"A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade(...)"
(Manoel de Barros)
Nestes três dias de seminário, tivemos a oportunidade de conhecer novas experiências, ter contato com outros educadores, aperfeiçoar nossa fundamentação teórica e refletir sobre nossa prática. Queremos dividir com outros educadores estas informações e usaremos este espaço, porém ficaria cansativo se colocassemos todos os apontamentos que fizemos de uma só vez, então será postado gradativamente. Não deixe de acompanhar.
Programação:
A Abertura do evento ficou por conta da Palestrante Profª Drª Ordália de Almeida com o tema:
"Crianças protagonistas de uma Educação de Qualidade - Valorizando suas vozes, seus olhares"
O que determina o quanto é considerado a imagem da criança como um ser social e cultural é a qualidade dos serviços sociais e da instituição educativa que se elabora para ela.
Identifica-se a infância e as crianças com incapacidade, com ausência de uma racionalidade completa, dado que estão sujeitas às normas estabelecidas com falta de sabedoria (dada a ausência de uma suficiente experiência de vida), pelo que as crianças não sabendo o que é melhor para elas. Roche (1999, 477)
Considera-se a infância como uma minoria, em certo grau alienada, pelos adultos, das suas capacidades de desfrutar dos atributos plenos da cidadania social.
As crianças são consideradas cidadãs ativas, com direitos a fazer escolhas informadas, de tomar decisões relativas à organização dos seus cotidianos e de influenciar e/ou partilhar tomada de decisões dos adultos, sempre que estas de alguma forma lhes digam respeito.
O argumento que defende a inclusão das crianças no projeto de cidadania tera que necessariamente desenvolver um reordenamento simbólico e prático do que é uma criança, um adulto e um cidadão.
Educar tendo como subsídio os direitos das crianças implica em pelo menos dois grandes desafios:
-Reconhecer que a infância não é vivida do mesmo modo por todas as crianças, esta etapa da vida varia, quer de sociedade para sociedade, quer dentro de uma mesma comunidade ou até dentro de uma mesma família. Podemos afirmar a existência de infâncias e não de uma única infância.
-Reconhecer que a criança não é um mero receptor das influências a que está sujeita, é também um ator em contínuo desenvolvimento, que tem pontos de vista e opiniões próprias e diversas a considerar sempre que são abordadas questões que lhes digam respeito
A criança como co-construtor de conhecimento, identidade e cultura.
A infância, como construção social, é sempre contextualizada em relação ao tempo, ao local e à cultura, variando segundo a classe, o gênero e outras condições socioeconômicas
Imagem de infância-criança:
-Convenção cultural – interpretação cultural
-Questão sócio-política que permite ou não reconhecer certas qualidades e potencialidades das crianças.
A criança é um “ator social portador da novidade que é inerente a sua pertença à geração que dá continuidade e faz renascer o mundo.
As crianças, todas as crianças, transportam o peso da sociedade que os adultos lhes legam, mas fazendo-o com a leveza da renovação e o sentido de que tudo é de novo possível.
A criança é complexa, ela tem uma cultura.
O que é cultura? O que compõe a cultura da criança?
As crianças são produtoras de cultura, independentemente de sua origem. O desafio, então, não é conhecer a criança, mas compreender como pensa essa criança e seu modo de ver a cultura de sua gente.
Patrimônio das culturas infantis
Conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores ou preocupações que crianças produzem e compartilham em interação com pares". (Corsaro, 1997)
Identidade própria, lugar em que vivem, o que fazem etc.
Processos de significação do mundo social pela criança.
CULTURAS INFANTIS
Linguagem oral: interações verbais
Jogos,Brinquedos e Brincadeiras
Histórias, Contos, causos e Poesias
Desenhos e pinturas: singularidade do olhar infantil
Linguagem Escrita: singularidades do discurso infantil
Recursos Midiáticos
Músicas
Danças
Folclore
O que aqui se visibiliza neste processo é que as crianças são competentes e têm capacidade de formularem interpretações da sociedade, dos outros e de si próprios, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos, de o fazerem de modo distinto e de o usarem para lidarem com tudo o que as rodeia. (Sarmento, 2006)
E ainda:
Que sejam produzidas unidades de referências culturais com a finalidade de se estabelecer com cada vez maior precisão diferenças entre adultos e crianças.
Que a formação de educadores de infância seja pensada em diálogo com as categorias geracionais (Infância e adolescência) e com a dinâmica social e cultural em que se conformam. (Arroyo,2008)
Que a formação de educadores crie diálogo com as teorias e práticas vinculadas à realidade sócio-cultural das crianças.
PILARES DAS CULTURAS INFANTIS
INTERATIVIDADE
REITERAÇÃO
LUDICIDADE
FANTASIA
As culturas infantis são, pois, produção e criação. As crianças produzem culturas e são produzidas na cultura em que se inserem (em seu espaço) e que lhes é contemporânea (em seu tempo).
- Quantos de nós, trabalhando nos projetos educacionais e nas práticas cotidianas, garantimos espaço para esse tipo de ação e interação das crianças?
Aprendemos com Paulo Freire que a educação e a pedagogia dizem respeito à formação cultural – o trabalho pedagógico precisa favorecer a experiência com o conhecimento científico e com a cultura, entendida tanto na sua dimensão de produção nas relações sociais cotidianas e como produção historicamente acumulada, presente na literatura, na música, na dança no teatro, no cinema, na produção artística, histórica e cultural que se encontra nos museus.
Os conceitos de culturas da infância geram conseqüências pedagógicas como pensar o trabalho pedagógico a partir das crianças e não como adultos, como atores sociais e não como alunos.
Neste quadro, as manifestações de resistência das crianças podem ser entendidas a partir das dimensões culturais que “surgem e se desenvolvem como um resultado das tentativas das crianças para fazer sentido e, até certo ponto, para resistir ao mundo adulto” (Corsaro, 1997, p. 96).
Brincadeiras
Isto porque a gente foi criada em lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isto porque a gente havia que fabricar os nossos próprios brinquedos: eram boizinhos de osso, bola de meia, automóveis de lata. Também a gente fazia de conta que o sapo era boi de cela e viajava de sapo. Outra era ouvir nas conchas as origens do mundo. Estranhei muito quando, mais tarde precisei de morar na cidade (…)
(…) O mundo era um pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade que um passarinho. Vi que tudo que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só o que não vira sucata é ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essas verdades. (Manoel de Barros)