Em nossas indagações e reflexões sobre o currículo e avaliação, principalmente a avaliação na Educação Infantil, nos questionamos como estamos avaliando nossas crianças e se estivermos, quais instrumentos e práticas usamos para esta avaliação?
Sabemos que avaliação é um tema controverso e que envolve a concepção do educador sobre educação e infância, além do contexto social que está inserido.
Dentro desse contexto de reflexões e transformações que a nossa prática pedagógica vem atravessando, nos questionamos : Os métodos de avaliação que usamos são suficientes? (coerentes? eficientes?) São significativos para nossas crianças? É dinâmico e contextualizado com o conteudo que o grupo vem aprendendo? Considera-se a experiência real de cada criança individualmente, ou avalía-se o grupo?
O que temos em comum acordo até agora (equipe pedagógica) , é que a avaliação deve ser pensada como acompanhamento do Processo de aprendizagem, e não como um produto final. E o único caminho que pode nos levar a este processo, é ampliando nossas práticas de observação, interpretação, registro e análise.
Levantamos alguns pontos que poderão nos orientar nesse novo caminho:
-Onde estamos?
-Para onde queremos ir?
-Como podemos chegar?
Sabemos onde estamos, que precisamos e queremos mudar.
Sabemos que não será uma mudança fácil e nem ocorrerá da noite para o dia, pois como dissemos, envolve vários aspectos e concepções de cada educador, reavaliação das nossas práticas e rupturas de alguns hábitos.
Agora nos resta trabalharmos o "Como fazer", que é o assunto de pauta dos nossos últimos e próximos HTPCs.
Vamos deixar um artigo de Terezinha Guerra - Educadora com ampla experiência em capacitação tecnica de professores, autora de inúmeras publicações na área da educação.
Portfólio
Pois é, basta nascermos e alguém já corre a providenciar nosso registro! Outros tantos virão pela nossa vida afora, memórias vivas do que já fomos ou fizemos: diplomas, certidões, certificados e quantas e deliciosas fotos de aniversários, formaturas, casamentos, natais, viagens...
Enquanto professores, também somos agentes de uma história compartilhada por dezenas de alunos e, nesse percurso, deixamos marcas, elaboramos registros...
Na verdade, todas as produções dos alunos - escritas, desenhadas, cantadas, representadas, dançadas... - são registros. Demonstram de que forma relacionaram, pensaram, simbolizaram, apreenderam, articularam determinados conteúdos e de que maneira esses se concretizaram, se sintetizaram em recortes do conhecimento apreendido.
Elaborar registros escritos é fundamental, pois o ato de escrever sobre aquilo que se aprendeu - ou se ensinou - faz refletir, organiza o pensamento e sintetiza ideias de forma consciente, mais profunda, num exercício de apropriação do conhecimento e de construção de significações.
Para o professor, o ato de registrar - intimamente ligado ao ato de avaliar - possibilita a melhor percepção dos progressos, obstáculos, retrocessos e limites de seus alunos, assim como permite efetuar as intervenções imediatas e apontar possíveis encaminhamentos.
Pedir, observar e interpretar os registros dos alunos requer um olhar que vá além das aparências, que busque os significados estéticos, simbólicos, cognitivos; um professor atento, investigativo, sensível, que não despreza pistas, que lê nas entrelinhas, dialoga com seus aprendizes e com sua própria prática e que, acima de tudo, tem clareza do seu papel de educador, dos objetivos do ensinar e aprender e do que pretende com cada uma das situações de aprendizagens propostas.
O quê e quando registrar?
Quando fotografamos um aniversário, por exemplo, tiramos fotos dos momentos mais significativos da festa, aqueles que sintetizam, da melhor forma possível, o evento que queremos registrar, para relembrar o acontecido, para organizarmos nosso álbum de memórias.
Assim também, na sala de aula, registros devem marcar etapas importantes de um projeto ou sequência de situações de aprendizagem.
Registros também podem e devem ser feitos ao final de uma aula, etapa ou momento significativo de um projeto ou sequência didática, quando se pretende verificar o que de fato foi apropriado pela classe até então, observando suas dificuldades e progressos, verificando como se dá a articulação entre o repertório dos alunos e os novos conteúdos trabalhados, pensar intervenções e replanejar ações.
Ao final de um projeto, registros mostram a sistematização do conhecimento, o que de fato foi significativo, quais mudanças ocorreram, se os objetivos propostos foram atingidos, de que forma os aprendizes articularam sua nova aprendizagem.
Vale relembrar que toda produção dos alunos é uma forma de registro: conversas, desenhos, pinturas, textos, música, poemas, teatro, esculturas... E, é claro, também fotos e gravações!
É importante salientar que registros escritos são fundamentais, mas não devem ocupar um período muito grande das aulas.
Todos já vimos pessoas em viagens de férias que passam o tempo todo com uma filmadora a tiracolo... Sim, registram tudo, o tempo inteiro, mas e o passeio? E a festa, o prazer, o conhecimento de uma nova cultura? Fica tudo virtual, tudo visto muito tempo depois, através de uma lente...
Desta forma, o que vale mesmo, é o professor estar presente e atento a todas as produções dos alunos, e anotar - estes são os seus registros - de forma individual ou por grupos de aprendizes, como estes se envolvem nas atividades, de que forma resolvem os desafios propostos, que dificuldades apresentam, que soluções encontram para determinados problemas, de que maneira articulam o fazer e o conhecer.
Aos poucos, através da prática do registro, é que o professor vai percebendo quais são os momentos sínteses de cada proposta, de cada situação que merecem ser registrados.
O portfólio
Há algumas décadas atrás, os "registros" da aprendizagem se resumiam a cadernos iguais, encapados iguais, apresentando a mesma sequência de atividades iguais e o melhor aluno era, obviamente, aquele que fosse mais "igual" ao professor, que cobrava cada página ausente (ele sabia a ordem das coisas...) e não aceitava nada além daquilo que ele havia colocado na lousa...
Educadores contemporâneos sugerem a organização dos registros dos alunos - e também os do professor - em portfólios, palavra essa que não deve ser desconhecida dos arte-educadores, pois se trata de uma pasta há muito tempo usada por artistas e arquitetos, que nelas documentam todo seu percurso profissional, selecionando suas obras mais marcantes e significativas.
Cada aluno pode e deve criar seu próprio portfólio - que é individual -, nele guardando suas produções e documentando toda sua trajetória durante um determinado projeto ou ano escolar, sempre orientado pelo professor que, com sua turma pode combinar os critérios de seleção dos trabalhos que dele farão parte: textos, desenhos, rascunhos, projetos, anotações, reflexões, trabalhos individuais ou em grupo, relatórios, marcos significativos de aprendizagem, organizados de forma que evidenciem o envolvimento do aprendiz no processo de ensinar/aprender.
Um portfólio não deve ser visto como uma caixa onde se guardam coisas que não se usa mais, nem organizado de forma mecânica ou burocrática.
O professor também deve elaborar o seu portfólio, de cada classe, com registros de cada aluno ou grupos de alunos, com suas reflexões, anotações, avaliações, enfim, com a história de seu percurso com aquele grupo de alunos que lhe foi confiado naquele período de tempo.
Portfólios podem e devem ser compartilhados entre os alunos da classe, com outros professores da escola, assim como com os pais.
Bibliografia
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CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisa para Educação, Cultura e Ação Comunitária. . Importância e função do registro. Ensinar e Aprender. SP: 2000
Martins, Mírian Celeste, Picosque, Gisa e Guerra, M. TerezinhaTelles. A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. FTD SP: 1998.
CASTRO, Edmilson. A produção do registro do educador: decifrando sinais. Espaço Pedagógico. SP:2001
pal ou com todo o coletivo
FREIRE, Madalena. O papel do registro na formação do educador. Diálogos Textuais. Espaço Pedagógico. SP: 2001
PERNIGOTTI, Joyce Munarski, Saenger, Liane, Goulart, Lígia B., Ávila, Vera M. Zambrano. O portfólio pode muito mais do que uma prova. Pátio. Revista pedagógica. Ano 4 - n.º 12.
Para melhor visualização deste processo, postamos um vídeo da Nova Escola Online, que vem de encontro a esse assunto.
Este vídeo apresenta o projeto da educadora Nota 10, Luciana Nascimento Santos, de São Paulo. Ela nos mostra como montou o portfólio do seu trabalho.