domingo, 31 de janeiro de 2010
Data da volta às aulas
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Adaptação
Não pense que só a criança tem de se adaptar ao início da vida escolar. Os pais também precisam de um tempo para assimilar essa nova etapa!!
Adapte-se aos horários e tenha assiduidade
O choro não significa que a criança não está gostando da escola. É uma maneira de ela dizer que é difícil se despedir da mãe. É comum esse choro terminar assim que as mães viram as costas. Se o lamento se prolongar, vale investigar, claro. Ah, sim, tem muita mãe que também não agüenta as lágrimas. Mas tem de, pelo menos, não deixar a criança ver.
DIÁLOGO: Converse e esclareça todas as dúvidas com a escola. Entre em detalhes, não deixe nada para se preocupar depois, em casa.
fonte: Revista crescer
Donald Winnicott
Winnicott defende a ideia de que a personalidade de uma pessoa é feita através de experiências da infância
"O precursor do espelho é o rosto da mãe."
O psicanalista Donald Winnicott trabalhava com crianças separadas de suas famílias em consequência da Segunda Guerra Mundial quando encontrou um interessante campo de estudo que lhe permitiu perceber etapas fundamentais do desenvolvimento da pessoa. Donald Winnicott constatou, por exemplo, a importância do brincar e dos primeiros anos de vida na construção da identidade pessoal. As conclusões a que ele chegou são preciosas para o trabalho dos educadores.
Boa parte dos conceitos de Winnicott se refere ao "desenvolvimento emocional primitivo", cujos efeitos, segundo ele, são de importância crucial para o indivíduo por se estenderem para além da infância. Muitos problemas da fase adulta estariam vinculados a disfunções ocorridas entre a criança e o "ambiente", representado geralmente pela mãe.
Os conceitos de verdadeiro e falso self (em inglês, palavra que se refere à própria pessoa) são um bom exemplo. “O self se forma com base nas experiências que o bebê acumula”, diz o psicanalista Davy Bogomoletz, de São Paulo. "É aquilo que, embora indefinível, faz o indivíduo sentir que ele é único." A relação com a mãe leva o bebê a administrar a própria espontaneidade e as expectativas externas. "Se a mãe aceitar as manifestações do bebê - como a fome, o desconforto, o prazer e a vontade -, em vez de impor o que acredita ser o certo, o bebê vai acumulando experiências nas quais ele é sempre o sujeito, e o self que se forma pode então ser considerado verdadeiro", explica Bogomoletz. Porém o self construído em torno da vontade alheia é o que Winnicott chama de falso e que priva o indivíduo de liberdade e de criatividade.
Aconchego e proteção
Uma das frases famosas de Winnicott é "não existe essa coisa chamada bebê", querendo dizer que não há criança sem uma mãe (que não precisa ser necessariamente a que deu à luz). Vem daí a idéia da "mãe suficientemente boa", aquela cuja percepção - consciente ou inconsciente - das necessidades do bebê a leva a responder adequadamente aos diferentes estágios do desenvolvimento dele. Isso faz com que se crie um ambiente - nomeado por Winnicott de holding (cuja melhor tradução para o português, segundo Bogomoletz, seria "colo") - propício a um processo de formação de um ser humano independente. "O holding é o somatório de aconchego, percepção, proteção e alegria fornecidos pela mãe", diz ele. Começa como algo vital, como o oxigênio e a alimentação, e se dilui conforme o bebê cresce.
"Os educadores devem fornecer holding no ambiente escolar", segundo Bogomoletz. Isso significa tratar cada aluno como ele precisa. O termo inclusão
O cobertorzinho
O movimento da psique entre o mundo das coisas e as fabricações da mente é uma atividade "transicional", adjetivo fundamental na obra de Winnicott. O conceito mais conhecido é o de "objeto transicional", representado classicamente pelo cobertorzinho a que muitos pequenos se agarram numa determinada fase.
Dessa forma, o objeto transicional prolonga o período em que o bebê se acredita onipotente, enquanto ele substitui essa crença com a aceitação de uma realidade sobre a qual não tem controle nem pode modificar por meio da imaginação. O bebê se vê com poderes mágicos e, com o tempo, percebe a ilusão. Mas, com as brincadeiras e o aprendizado do mundo, a criança, o adolescente e o adulto retêm o poder de criar e adaptam-se às possibilidades reais. "A fantasia é realmente a marca do humano", diz Bogomoletz. "Já a objetividade é uma habilidade que se aprende, como uma segunda língua."
"A escola tem a obrigação de ajudar a criança a completar essa transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito de devanear, imaginar, brincar"-, prossegue o psicanalista. O respeito que os pequenos terão pela objetividade será incorporado por eles, jamais imposto de fora para dentro. Quando livres para criar, eles, segundo Winnicott, vêem no estudo um modo de exercitar o poder de invenção. Se, no entanto, o ambiente escolar não for aberto à brincadeira, os recreios serão tanto mais selvagens quanto as aulas forem mais opressoras ou supostamente sérias".
Formação nos campos de guerra
Donald Woods Winnicott nasceu em 1896 numa família rica de comerciantes em Plymouth, na Inglaterra. Ao entrar na faculdade de Medicina, foi convocado para servir como enfermeiro na Primeira Guerra Mundial, na qual fez as primeiras observações sobre o comportamento humano em situações traumáticas. Especializou-se em pediatria, trabalhando 40 anos no Hospital Infantil Paddington. Paralelamente, preparou-se para ser psicanalista. Trabalhou como consultor psiquiátrico do governo, tratando de crianças afastadas dos pais na Segunda Guerra Mundial. Em 1949, separou-se da primeira mulher, a artista plástica Alice Taylor. Dois anos depois, casou-se com Clare Britton, psicanalista e organizadora dos trabalhos do marido. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e morreu em Londres, em 1971.
Análise da própria infância e marcas da psicanálise
O interesse de Winnicott pelo estudo da construção da identidade veio da percepção da influência sufocante da mãe depressiva em sua personalidade. Ainda criança, Winnicott enveredou pelos caminhos da observação científica ao ler os estudos do naturalista Charles Darwin (1809-1892). Já pediatra, conheceu a obra de Sigmund Freud (1856-1939), fez terapia e freqüentou o grupo de Bloomsbury - integrado, entre outros, pela escritora Virginia Woolf (1882-1941) -, em que a psicanálise era tema recorrente. Seu trabalho chega ao Brasil com a criação de várias instituições winnicottianas.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Ovide Decroly e Henri Wallon
Ovide Decroly
Este médico e educador defendia a idéia de que as crianças apreendem o mundo com base em uma visão do todo
Texto
Márcio Ferrari
Frases de Ovide Decroly:
“Convém que o trabalho das crianças não seja uma simples cópia; é necessário que seja realmente a expressão de seu pensamento”
“O meio natural é o verdadeiro material intuitivo capaz de estimular forças escondidas da criança”
Ovide Decroly nasceu em 1871,em Renaix, na Bélgica, filho de um industrial e de uma professora de música. Como estudante, não teve dificuldade de aprendizado, mas, por causa de indisciplina, foi expulso de várias escolas. Recusava-se a freqüentar as aulas de catecismo. Mais tarde preconizaria um modelo de ensino não-autoritário e não-religioso. Formou-se em medicina e estudou neurologia na Bélgica e na Alemanha. Sua atenção voltou-se desde o início para as crianças deficientes mentais. Esse interesse o levou a fazer a transição da medicina para a educação. Por essa época criou uma disciplina, a "pedotecnia", dirigida ao estudo das atividades pedagógicas coordenadas ao conhecimento da evolução física e mental das crianças. Casou-se e teve três filhos. Em 1907, fundou a École de l’Ermitage, em Bruxelas, para crianças consideradas "normais". A escola, que se tornou célebre em toda a Europa, serviu de espaço de experimentação para o próprio Decroly. A partir de então, viajou pela Europa e pela América, fazendo contatos com diversos educadores, entre eles o norte-americano John Dewey (1859-1952). Decroly escreveu mais de 400 livros, mas nunca sistematizou seu método por escrito, por julgá-lo em construção permanente. Morreu em 1932, em Uccle, na região de Bruxelas.
Entre os pensadores da educação que, na virada do século 19 para o 20, contestaram o modelo de escola que existia até então e propuseram uma nova concepção de ensino, o belga Ovide Decroly foi provavelmente o mais combativo. Por ter sido, na infância, um estudante indisciplinado, que não se adaptava ao autoritarismo da sala de aula nem do próprio pai, Decroly dedicou-se apaixonadamente a experimentar uma escola centrada no aluno, e não no professor, e que preparasse as crianças para viver em sociedade, em vez de simplesmente fornecer a elas conhecimentos destinados a sua formação profissional.
Decroly foi um dos precursores dos métodos ativos, fundamentados na possibilidade de o aluno conduzir o próprio aprendizado e, assim, aprender a aprender. Alguns de seus pensamentos estão bem vivos nas salas de aula e coincidem com propostas pedagógicas difundidas atualmente. É o caso da idéia de globalização de conhecimentos – que inclui o chamado método global de alfabetização – e dos centros de interesse.
O princípio de globalização de Decroly se baseia na idéia de que as crianças apreendem o mundo com base em uma visão do todo, que posteriormente pode se organizar em partes, ou seja, que vai do caos à ordem. O modo mais adequado de aprender a ler, portanto, teria seu início nas atividades de associação de significados, de discursos completos, e não do conhecimento isolado de sílabas e letras. “Decroly lança a idéia do caráter global da vida intelectual, o princípio de que um conhecimento evoca outro e assim sucessivamente”, diz Marisa Del Cioppo Elias, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Os centros de interesse são grupos de aprendizado organizados segundo faixas de idade dos estudantes. Eles também foram concebidos com base nas etapas da evolução neurológica infantil e na convicção de que as crianças entram na escola dotadas de condições biológicas suficientes para procurar e desenvolver os conhecimentos de seu interesse. “A criança tem espírito de observação; basta não matá-lo”, escreveu Decroly.
O conceito de interesse é fundamental no pensamento de Decroly. Segundo ele, a necessidade gera o interesse e só este leva ao conhecimento. Fortemente influenciado pelas idéias sobre a natureza intrínseca do ser humano preconizadas por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Decroly atribuía às necessidades básicas a eterminação da vida intelectual. Para ele, as quatro necessidades humanas principais são comer, abrigar-se, defender- se e produzir.
A trajetória intelectual e profissional de Decroly se assemelha à da contemporânea Maria Montessori (1870-1952). Como a italiana, o educador belga se formou em medicina. Encaminhando- se para a neurologia, também como ela trabalhou com deficientes mentais, criou métodos baseados na observação e aplicouos à educação de crianças consideradas “normais”. Ambos acreditavam que o ensino deveria se aproveitar das aptidões naturais de cada faixa etária.
Mas, ao contrário de Montessori, cujo método previa o atendimento individual na sala de aula, Decroly preferia o trabalho em grupos, uma vez que a escola, para ele, deveria preparar para o convívio em sociedade. Outra diferença é que a escola montessoriana recebe as crianças em ambientes preparados para tornar produtivos os impulsos naturais dos alunos, enquanto a escola-oficina de Decroly trabalha com elementos reais, saídos do dia-a-dia.
Os métodos e as atividades propostos pelo educador têm por objetivo, fundamentalmente, desenvolver três atributos: a observação, a associação e a expressão. A observação é compreendida como uma atitude constante no processo educativo. A associação permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido em termos de tempo e de espaço. E a expressão faz com que a criança externe e compartilhe o que aprendeu.
Linguagens múltiplas
Com a ampliação do conceito de linguagem, que a lingüística viria a corroborar, Decroly pretendia dissociar a idéia de inteligência da capacidade de dominar a linguagem convencional, valorizando expressões “concretas” como os trabalhos manuais, os esportes e os desenhos.
Escolas que são oficinas
A marca principal da escola decroliana são os centros de interesse, nos quais os alunos escolhem o que querem aprender. São eles também que constroem o próprio currículo, segundo sua curiosidade e sem a separação tradicional entre as disciplinas. “Hoje se fala tanto em interdisciplinaridade e projetos didáticos. Isso nada mais é do que os centros de interesse”, diz a professora Marisa del Cioppo Elias. Os planos de estudo dos centros de interesse podem surgir, entre as crianças menores, das questões mais corriqueiras.
A marca principal da escola decroliana são os centros de interesse, nos quais os alunos escolhem o que querem aprender. São eles também que constroem o próprio currículo, segundo sua curiosidade e sem a separação tradicional entre as disciplinas. “Hoje se fala tanto em interdisciplinaridade e projetos didáticos. Isso nada mais é do que os centros de interesse”, diz a professora Marisa del Cioppo Elias. Os planos de estudo dos centros de interesse podem surgir, entre as crianças menores, das questões mais corriqueiras.
Para pensar
Decroly ficou chocado coma realidade que conheceu ao trabalhar com deficientes – a maioria recém-saída de uma experiência de marginalização e fracasso nas escolas públicas. O médico equiparava parte dos institutos de educação dos bairros pobres a hospícios e casas de correção para delinqüentes. Decroly concebia as relações dentro da escola como uma sociedade em miniatura. Elas teriam função preventiva, de garantir formação intelectual, física e moral sólida para construir uma vida de cidadão. Essa formação deveria ser conduzida pelas próprias crianças desde os primeiros anos de escola. E você, o que acha? A melhor forma de a escola se organizar é mesmo por meio dos interesses dos alunos?
Militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula.
Frases de Henri Wallon:
“A criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a elas”
“O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna”
Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova – instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças.
Militante de esquerda, participou das forças de resistência contra
Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945). Em 1947, propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon – conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Nele, por exemplo, está escrito que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. Em 1948, lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas idéias no mundo da educação – e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon. Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, “a própria negação do ensino”.
As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.
Afetividade
As transformações fisiológicas em uma criança (ou, nas palavras de Wallon, em seu sistema neurovegetativo) revelam traços importantes de caráter e personalidade. “A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer”, explica Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), estudiosa da obra de Wallon há 20 anos. Segundo ela, a raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. “A emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social”, completa a pedagoga Izabel Galvão, também da USP. Ela diz que a afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano.
Movimento
Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. Por que, então, a disposição do espaço não pode ser diferente? Não é o caso de quebrar a rigidez e a imobilidade adaptando a sala de aula para que as crianças possam se movimentar mais? Mais que isso, que tipo de material é disponibilizado para os alunos numa atividade lúdica ou pedagógica? Conforme as idéias de Wallon, a escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa.
Estudos realizados por Wallon com crianças entre 6 e 9 anos mostram que o desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada uma faz as diferenciações com a realidade exterior. Primeiro porque, ao mesmo tempo, suas idéias são lineares e se misturam – ocasionando um conflito permanente entre dois mundos, o interior, povoado de sonhos e fantasias, e o real, cheio de símbolos, códigos e valores sociais e culturais.
Nesse conflito entre situações antagônicas ganha sempre a criança. É na solução dos confrontos que a inteligência evolui. Wallon diz que o sincretismo (mistura de idéias num mesmo plano), bastante comum nessa fase, é fator determinante para o desenvolvimento intelectual. Daí se estabelece um ciclo constante de boas e novas descobertas.
O eu e o outro
A construção do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em que a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso se dá aos 3 anos de idade, a hora de saber que “eu” sou. “Manipulação (agredir ou se jogar no chão para alcançar o objetivo), sedução (fazer chantagem emocional com pais e professores) e imitação do outro são características comuns nessa fase”, diz a professora Angela Bretas, da Escola de Educação Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são elementos estimuladores da construção do eu”, emenda Heloysa Dantas. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de educação.
Wallon na escola: humanizar a inteligência
Diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é sempre a de considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio.
Para pensar
A teoria de Henri Wallon ainda é um desafio para muitos pais, escolas e professores. Sua obra faz uma resistência contumaz aos métodos pedagógicos tradicionais. Numa época de crises, guerras, separações e individualismos como a nossa, não seria melhor começar a pôr em prática nas escolas idéias mais humanistas, que valorizem desde cedo a importância das emoções?
fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Boas Vindas à 2010
Como estamos em férias escolares, vamos postar alguma fundamentação teórica, parte de nossas leituras em busca de conhecimentos que fundamentam nossa prática pedagógica.
É de grande importância conhecermos e refletirmos sobre as concepções e teorias de alguns pensadores que influenciaram na história da educação, nos trazendo, até os dias atuais, subsídeos para a reflexão (e transformação) da nossa prática pedagógica.
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO
Por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de educar. Mesmo os profissionais de ensino que não conhecem a obra de Aristóteles (384-322 a.C.), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) ou Émile Durkheim (1858-1917) trabalham sob a influência desses pensadores, na forma como suas idéias foram incorporadas à prática pedagógica, à organização do sistema escolar, ao conteúdo dos livros didáticos e ao currículo docente.
Antes mesmo de existirem escolas, a educação já era assunto de pensadores. Um dos primeiros foi o grego Sócrates (469-399 a.C.), para quem os jovens deveriam ser ensinados a conhecer o mundo e a si mesmos. Para seu discípulo Platão (427-347 a.C.), o conhecimento só poderia ser alcançado num plano ideal e nem todos estariam preparados para esse esforço. Aristóteles, discípulo de Platão, inverteu as prioridades e defendeu o estudo das coisas reais como um meio de adquirir sabedoria e virtude. O sistema de ensino que ele preconizou era acessível a um número maior de pessoas.
Duas vertentes
O quadro de afiliações filosóficas se baseia no princípio de que as duas tendências (a idealista, de Platão, e a realista, de Aristóteles) podem ser traçadas em toda a história da filosofia no Ocidente – esse é um critério possível, mas não absoluto. Mesmo quando dominada pelo cristianismo, durante a Idade Média, a educação experimentou as vertentes idealista e realista, uma seguida da outra, de acordo com os postulados de Santo Agostinho (354-430) e de Tomás de Aquino (1224/5-1274).
No século 14, a Europa havia se voltado de novo para o saber clássico. O feudalismo cedeu lugar a Estados nacionais, e as universidades, embora fiéis à teologia, passaram a dar atenção também ao conhecimento científico. Começava o humanismo. Filósofos como o holandês Erasmo de Roterdã (1469-1536) valorizaram a capacidade do ser humano de moldar a si mesmo por meio da leitura e da liberdade de conhecer.
Praticamente ao mesmo tempo, o fundador do protestantismo, Martinho Lutero (1483-1546), criou as bases da educação pública e universal. Em nome do direito de todos de ler e interpretar a Bíblia por si mesmos, o monge alemão deixou um legado duradouros na história do ensino. A Igreja Católica reagiu com uma ofensiva dos jesuítas, cujo ensino se baseava em rígida disciplina intelectual e física.
No século 17, enquanto o absolutismo triunfava como forma de governo numa Europa que se subdividia em Estados cada vez menores, religião e razão tentavam conviver na cultura. O grande nome racionalista no campo pedagógico foi o do tcheco Comênio (1592-1670), que previu um ensino que respeitasse a capacidade e o interesse do aluno sem severidade.
O século terminou com o despontar do liberalismo, no pensamento do inglês John Locke (1632-1704), convicto de que as idéias nascem da experiência e não são inatas no ser humano. Os 100 anos seguintes ficaram marcados pela consagração dos direitos civis – liberdade, privacidade, propriedade e igualdade. Para os pensadores da época, a sociedade moderna seria aquela em que as luzes da razão se acenderiam em cada um para usufruir desse aprendizado individual.
Tanta fé na civilização e na adaptabilidade do ser humano irritou alguns filósofos, para quem a humanidade mais perdeu do que ganhou ao se afastar da natureza. Por isso, missão urgente era preservar as crianças da "influência corruptora" da sociedade. O nome-chave dessa escola é o suíço Rousseau, que reconstruiu a figura da criança como um ser em processo. Friedrich Froebel (1782-1852), herdeiro da tendência naturalista, projetou a educação dos menores de 8 anos, procurando cuidar deles sem desrespeitar sua evolução espontânea.
Com a Revolução Francesa, em 1789, a escola tornou-se a instituição que garantiria certa homogeneidade entre os cidadãos e daí, pelo mérito, a diferenciação de cada um. A educação se expandiu por toda a França. O auge da crença nesse consenso social se encontra no pensamento do sociólogo francês Durkheim, para quem a sociedade era a materialização de uma consciência coletiva.
Aceita a idéia de que a criança na escola está num processo de desenvolvimento a ser respeitado e estimulado, a garantia para que isso aconteça foi enfatizada pelos postulados da Escola Nova, que se desenvolveu no final do século 19. Um grande representante do método tradicional foi o educador alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841), com sua didática baseada na direção do professor e na disciplina interna do aluno.
A Escola Nova deu impulso ao desenvolvimento de práticas didático-pedagógicas ativas. Um de seus representantes é o norte-americano John Dewey (1859-1952), que pregou a democracia dentro da escola. O movimento escolanovista representou também uma adequação educacional ao crescimento urbano e industrial. Um de seus pilares foi a identificação dos métodos pedagógicos com a ciência. Inseriram-se na crença em uma "pedagogia científica" tanto Maria Montessori (1870-1952) como o belga Ovide Decroly (1871-1932). A médica e educadora italiana buscou os princípios de uma auto-educação motivada por materiais pedagógicos.
Construtivismo
Ainda que originária de outro meio, a obra do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) de certa forma deu prosseguimento às investigações da Escola Nova sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças e dos adolescentes. Suas descobertas marcaram a pedagogia no século 20 mais do que o trabalho de qualquer outro pensador. Entre os seguidores do construtivismo, como ficou conhecida a doutrina de Piaget, está a argentina Emilia Ferreiro, muito influente no Brasil.
Paralelamente, em consonância com as idéias socialistas do alemão Karl Marx (1818-1883), vários pensadores de esquerda desenvolveram idéias especificamente pedagógicas, como o russo Anton Makarenko (1888-1939), que defendeu uma ligação maior entre produção e escola. O bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) levantou a tese da gênese social do psiquismo, estruturada por meio de um sistema de signos. E o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) alcançou largo reconhecimento internacional por um método centrado na necessidade de consciência social e na importância do "outro".
Em países da Europa Ocidental, o chamado Estado de bem-estar social assumiu uma função reguladora das desigualdades e assumiu mais do que nunca a missão de educar. Nesse contexto, uma importante linhagem de pensadores críticos questionou concepções arraigadas sobre o papel da escola, a organização do conhecimento e as noções de inteligência, entre outras. Fazem parte dessa geração intelectuais como os franceses Edgar Morin, Pierre Bordieu (1930-2002) e Michel Foucault (1926-1984) e o norte-americano Howard Gardner, que causou impacto no meio pedagógico no início dos anos 1980 ao defender a idéia das inteligências múltiplas.
fonte:http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica